Tuesday, February 26, 2008



Penso que seja hipocrisia começar essa carta com um dissimulado e amistoso olá...

Hoje, 24 de Fevereiro de 2008, sinto-me estruturada para expressar em palavras sentimentos guardados desde 18 de Fevereiro de 2008.
Sinceramente não pensei escrever essa carta antes de meados de 2010, próximo ao término de minha faculdade, porém infortúnios obrigaram-me a despejar, sem grandes pormenores, infelizes sentimentos.

Não tenho por costume utilizar lúdicas palavras, sobretudo quando as mesmas são direcionadas à apenas uma pessoa. Honestidade, precisão e impetuosidade envolvem as linhas e parágrafos de minhas padecidas palavras.
Caso opte camuflar sua culpa, assim como é de seu feitio e fingir que nada realmente aconteceu, peço que não dê continuidade a leitura dessa carta.


Meados de 2005:

Regras foram estabelecidas. Pontos de vistas foram escancarados, metas foram definidas, promessas foram feitas...


18 de Fevereiro de 2008:


Um questionamento e como resposta, uma mentira. Uma afirmação e lá se foi mais uma mentira. Todas deliberadamente insultadas de maneira corriqueira. Olhos nos olhos e o mais importante dos juramentos foi quebrado com frieza e crueldade.
Lágrimas em quantidades imensuráveis foram derramadas. Suspeitas foram levantadas e por fim, a consternação pelo fim de uma grande amizade.

Passadas algumas horas, recolho todos os pertences meus, presenteados pela pessoa que hoje me causa deveras desgosto. Devolvo três caixas repletas de memórias, histórias...

Desliguei o celular para não aborrecer-me com as mensagens de súplica que certamente iria me enviar durante toda a madrugada. Também fechei bem as cortinas caso quisesse bancar o sofrido garoto arrependido que até na chuva indaga pelo perdão de sua amada. Avisei a todos aqui em casa que em hipótese alguma atendessem a companhia.


19 de Fevereiro de 2008:

Ligo o celular, nenhuma mensagem. Na porta de casa, nenhum estranho se aproximou. O interfone nem por engano tocou.

“Talvez ele não tenha se dado conta da gravidade da situação.”
“Simplesmente pode não estar sofrendo.”
“Talvez não sinta remorso e muito menos esteja desorientado com minhas atitudes, com minhas palavras.”

“Eu nunca mais vou confiar em você.”


10:57 AM‘Carol, por favor. Sei da besteira que fiz. Te peço perdão! Sei que você está com uma raiva tremenda de mim. E te dou razão. Fiz uma grande merda, mas a única intenção que tive foi pra não criar atrito, mas para variar saiu pela culatra. Eu te amo, Carol. Por favor, me perdoa.’

Raiva? Acho que apenas sentirei tal sentimento quando toda a dor contida em meu peito puder escoar até seu término ou quando perceber que não vale a pena sofre por alguém que me engana.
Grande merda? Cada pessoa tem sua concepção em relação às atitudes tomadas... Você considera uma merda a atitude repentina que teve ao me contar suas mentias... Eu considero desumano mentir para pessoas que julgamos amar. Por pior que seja prefiro uma dura verdade a uma doce mentira.
Você dar razão? Lamento, mas para mim, pessoas que tem como lema mentir para encobrir deslizes, não possuem moral para julgar ou simplesmente dar a razão para quem foi ludibriado.
Não criar atrito? Altruísmo realmente é uma péssima desculpa para aqueles que temem encarar seus repugnantes erros.
Perdoar?

(...)


Idéias ainda em estado de alienação. Contato visual tornou-se algo insuportável. Saí pela porta desejando jamais entrar por ela novamente. Pela rua, ofegante você segura meu braço. Senti asco. Proferi não querer que me tocasse outra vez, que desejava que sua voz tornasse-se inaudível à meus ouvidos. Desejei nunca mais te ver.

Sofrimento incorporou meus sentidos. Aquelas palavras escritas... Aquelas malditas mentiras... Desde quando estava sendo iludida? Desde quando mentia olhando dentro de meus olhos? Será que não te ensinaram que mentir pode destruir uma sólida amizade? Será que deixou seu coração em casa e colocou no lugar dele um livrinho de histórias?


20 de Fevereiro de 2008:

Foi-me concedido o sentimento de aversão, simplesmente pairou por sobre todo o ar que respiro. Confesso que fez-me bem sentir ódio de suas fajutas intenções, de suas supostas explicações. Sim, odeio você por ter me feito sofrer da maneira que sofri.
Sinto cólera por sua falta de atitude e por não ter sequer hombridade para convocar-me para uma conversa. Mesmo levando em conta que sua falsa coragem fosse colocada a prova. Mesmo que pudesse ouvir de mim um sonoro “não” como resposta.
Seu comportamento apenas consolida minhas conjecturas sobre o descaso com que enfrenta seus próprios problemas e a covardia com que lida com eles.
Enfraquece por completo meu vigor quando penso que você não está nem ao menos sofrendo por ter perdido sua grande melhor amiga... Por ter perdido a mulher-menina que tanto dizia amar... Por ter mentido para a Carol Ann... Your everlasting Love.


24 de Fevereiro de 2008:

Sentada na frente do computador, revejo meus atos. Alguns impensados, outros premeditados. Deparo-me com a assustadora constatação que a menina com fama de nervos de aço e coração de pedra transformou-se em uma mulher vulnerável às obras do destino. Que chora incessantemente, ama incondicionalmente, odeia com força descomunal, cresce com erros, e acima de tudo, ainda precisa caminhar delongas por entre os segredos da humanidade para aprender a perdoar.