Tuesday, November 21, 2006

Você ainda está se divertindo?

Estava minutos atrás concentrada em uma defesa sobre o papel da mulher na publicidade hoje e antigamente, trabalho de Filosofia que deverá ser entregue até o final dessa semana.

Hoje é terça-feira, poderei entregá-lo até sexta, porém, chego em casa todos os dias 12:30h, almoço correndo para não ter perigo de chegar atrasada no trabalho que começa às 14:00h. Chego em casa às 21:30h geralmente cansada, não pelas atividades que desempenho, mas afirmo que quase que inteiramente pelas agressões verbais que recebo, embora, sem medo de errar, eu sou uma pessoa que esbanja simpatia quando existe reciprocidade.

Dei uma pausa no trabalho para tomar um banho, bem quentinho, para tentar afastar de minha cabeça os pensamentos que insistem em atrapalhar meu raciocínio para o desenvolvimento desse trabalho de Filosofia, que hoje sendo terça-feira, julgo-me atrasada em relação aos progressos do mesmo.

No banho, penso bastante sobre meus fantasmas atuais e os passados (passados no sentido de não serem os mais recentes, pois o passado nunca me abandonou), penso que assim como os fantasmas passados, os atuais também se apaixonaram por mim, não sobrevivem mais sem meus comandos. Afinal, todos dizem que sou adorável. Todos se apaixonam por mim. Seria de se estranhar se eles me repudiassem.

Depois do banho, preocupada com o trabalho de Filosofia encontro-me novamente diante da tela do computador. As palavras fluem facilmente, é simples, é prazeroso, é doce, é vingativo, é perverso, é puro escrever. Escrever me faz bem. Sinto-me útil, viva. Através dos signos escrevo o que jamais ninguém poderá decifrar.

Porém, algo me impede de prosseguir com o trabalho, minhas preocupações sobrepõem as verdades que tanto preciso gritar, perdão, escrever.

Penso que em um jardim repleto de intermináveis variedades de flores, as mais “alegres” com cores mais vivas se destacam em relação às demais. Porém somente a que rouba seiva das mais próximas para poder por fim se tornar a mais alegre do jardim, é a que será devidamente escolhida para ser exposta como sendo um grande troféu.

Mas se as escolhidas padecem primeiro que as que continuam na terra, qual a vantagem de ser a mais bela? A mais colorida? A mais alegre?

Volto a pensar sobre o trabalho que terá que ser entregue até sexta as 11:30h.

Hoje percebi o real sentido de algumas palavras, reitero, sábias palavras, que me são proferidas diariamente, porém que nunca receberam o devido grau de atenção. Não cabe a mim transcrevê-las, minha simpatia e generosidade encontram-se limitadas, diria até estagnadas.

De que vale a surpresa, quando a existência não é desejada?

Para finalizar esse texto desconexo, ressalto que a consideração é uma **droga** necessária que nos faz cair, chorar de joelhos no chão, que amarga nossas vidas, que azeda nossos dias. Que bela surpresa? Surpresa, outra palavrazinha miserável e capciosa.

Vale lembrar que “eu nunca mudei, eu só não estou igual ao que conhece, não tente me entender, tente ver além do que passou....” NXZERO

Ela não é adorável? Não me refiro a música!
Tem um fio de cabelo branco aos 20 anos e passa géis contra rugas.


Lita

**Droga não foi exatamente a palavra que escolhi para descrever consideração, mas para causar menor impacto a meus olhos, resolvi substituí-la e enfeitá-la.

Friday, November 10, 2006

Uma bela de uma sexta feira.

É...
Existem dias...

Já percebeu que quando, após uma noite em claro, decorrente de uma insônia, o despertador não apenas toca, ele grita, berra, faz um escândalo, e o faz com esplendor.

Você assustado levanta-se atordoado, procurando de onde está vindo o som da sirene. Logo pergunta-se: Onde é o fogo?

A insônia em questão possivelmente se agravou porque com preguiça de levantar-me da cama resolvi tentei dormir com a cortina entreaberta. Resultado, o letreiro de Pizza Dom Giovanni em rosa e azul bebê, deram a meu quarto um ar de berçário, singelo e aconchegante, isso nos 40 minutos iniciais, porque lá pelas 2 da manhã, já estava arquitetando planos mirabolantes para destruir o letreiro “maternal” que mais me fazia lembrar um motel barato de beira de estrada. Quem sabe uma tijolada acidental arremessada do terceiro andar do prédio vizinho, ou quem sabe qualquer utensílio doméstico que eu pudesse alcançar e em posse de toda minha raiva, mirar, acertar e abater meu alvo.

Os sons dos carros pela janela profetizam que o trânsito “anda” ironicamente bastante lento. Logo, a solução é ir a pé para o trabalho. Mais saudável, menos estressante, menos riscos de ser assaltada.

Antes de sair de casa, escolho a dedo minha roupa preta mais carregada, aquela bem surrada também, onde até onde eu me lembre apenas coisas inusitadas aconteceram enquanto eu a usava.

Lembro-me da vez que alegre e radiante, após atravessar a rua do meu prédio, deparo-me com o homem de meus sonhos, penso logo que a em questão de segundos, minha vida pode ‘sofre’ uma positiva revira-volta. Eu não contava com um estratégico pombo mirando certeiramente minha cabeça, e conseqüentemente acertando em cheio. Já viu algum pombo que mirou e errou? Pois bem, eu também não. Escorre assim pelos meus cabelos recém lavados e enfim encontra minha camiseta preta, que em contraste com a sujeirinha provindo do pombo, ganha um destaque todo especial. Naquele dia foi por água abaixo possíveis conjecturas relacionadas ao meu futuro marido.

Retomando à minha perfeita sexta-feira, ainda em casa, mandei meu cachorro deitar, porque perdida em lembranças, acabo por me atrasar, não tendo assim tempo para levá-lo para dar uma simples volta no quarteirão.

Meu bem maior, meu cachorro vira-lata pura raça que me acompanha em minhas jornadas de insônias assistindo junto a mim filmes trash em canal aberto lá pela tantas da madrugada.

Atrasada, a solução então é ir de bicicleta para o trabalho. Exercitar os músculos em primeiro lugar. A pé nunca chegaria a tempo... o trânsito está quilométrico, o jeito é encarar a magrela.

Magrela de cor amarela que encontra-se encostada por anos no subsolo de meu prédio e que obviamente está com o pneu vazio.

Acordando o porteiro de modo sutil: “Ei, tu tens alguma bomba para encher o pneu da minha bicicleta”? “E anda rápido que eu estou atrasada”!

Com cara de poucos amigos o porteiro traz a famosa bombinha de ar.
Apressada, saio sem agradecer a “gentileza”. O que será que ele esperava? Um “muito obrigada”? Não fez nada além de sua obrigação! Me servir quando for solicitado.

Pelo caminho viajando meu olhar por entre as flores que irritantemente infestam e colorem meu caminho, distraída, bato de frente com o pneu no meio fio, e em slow motion voou por sobre... adivinhem? Um “magnífico” canteiro de flores rosas e azuis. Minhas cores favoritas... que instantaneamente me remetem a noite mal dormida de ontem ocasionada pelas mesmas cores que insistiam em entrar por entre as brechas da cortina nas cores azul e rosa.

Rápido e veloz levantei-me como um lutador que recebe um golpe, porém está disposto a não entregar a luta, após me levantar, meus olhos encontram os olhos do mesmo homem que presenciou o episódio do pombo. Envergonhada, aos trancos e barrancos e com o pneu um tanto quanto torto, sigo minha perigosa viagem sem olhar para trás.

Afinal, quem nunca levou um pequeno tombo na rua que destrua o primeiro canteiro.

Chegando em meu trabalho, pilhas de documentos atrasados em cima de minha mesa me esperam para serem analisados e despachados, assim como reclamações do chefe Mor são ouvidas por toda repartição. Pelo menos não ouvi meu nome sendo citado, diria até aclamado, como quando da vez que descuidadosamente entupi a cafeteira com meu brinco que durante o preparo do café, inusitadamente, caiu dentro da cafeteira, inundando assim a cozinha do escritório.

Após um exaustivo dia de trabalho, sem planos para curtir minha excepcional sexta feira de cão, resolvi pedalar de volta para casa, fazendo apenas um pequeno e rápido pit stop no cachorro-quente do Tio Zé.

Morta de cansaço e com o cachorro-quente coberto com catchup, nem me dei conta de que a milho do meu delicioso hot dog estava completamente estragado.

Mais do que ligeira, corri para casa, minha entrada em meu lar doce lar é triunfal, direto para o banheiro, e assim segue a noite, da cama pro banheiro, do banheiro pra cama, não foi preciso acender sequer uma lâmpada, o letreiro da Pizza Dom Giovanni iluminou cada um de meus passos.