Thursday, September 06, 2007

Evolução?


... Dessa vez eu estava aprisionada, e ela estava questionando sua liberdade.

Assim que coloquei meus pés naqueles degraus, percebi que estava embarcando rumo ao meu tão almejado exílio.
Como de costume, lutei contra tudo e todos por um espaço ao lado da janela.
Elas me dão a sensação de poder voar quando fecho meus olhos.

(...)

Lembro-me da primeira vez que a vi. Era uma manhã em que a chuva caía impiedosamente por sobre sua pele clara. Mesmo sem a conhecer face a face, quis protege-la. Desejei gritar para ela vir para perto de mim, para poder se abrigar sob o mesmo alpendre do casebre que havia encontrado. Mas um sentimento infundado de medo preencheu todo o espaço ocupado antes pela solidariedade.
Inexplicavelmente, a deixei do lado de fora.

Por anos esse sentimento de culpa perseguiu-me incansavelmente. Não sabia ao certo se aquela chuva havia levado aqueles olhos claros que me encararam enquanto, eu dentro do casebre, secava meus cabelos.

Por ironia do destino, em uma tarde de outono, entre a multidão, pude reconhecer aqueles olhos. O brilho que irradiava deles era o mesmo, porém a intensidade era tremendamente maior. Fato que me deixou receosa.

Uma barreira imaginária novamente impediu-me de poder me aproximar dela. Mas mesmo de longe pude enxergar seus olhos fixando os meus. Olhos de agradecimento. Olhos seguros, expressivos.
Naquela tarde, fui liberta daquele sentimento.

(...)

Mais dois anos se passaram. E esses ainda estão cravados de forma acentuada.

(...)


Embora a prisioneira fosse eu, de alguma forma, sempre soube que ela desejara com todas as suas forçar ser reclusa como eu. Seguramente afirmo que ela abdicaria imediatamente de sua falsa liberdade para viver aprisionada como fui predestinada a ser.

(...)

Sempre conjeturei que ela precisasse de ajuda, mas somente após sua morte pude ter certeza que ela realmente desejou ser salva durante toda sua vida.

Talvez quisesse apenas ser liberta de sua própria vida.

Seu assassino foi sistematicamente frio. Com as mãos já ensangüentadas, conseqüência de outro homicídio, ele cautelosamente alçou seus olhos e encarou os dela. Posso imaginar o horror circulando por entre suas veias. Observou-a por alguns instantes e sorriu enquanto pronunciou as últimas palavras que ela ouviu em sua precoce vida;

“Hoje é o seu dia de sorte”.

Vergonhosamente cada centímetro de seu corpo foi dilacerado, exposto e leiloado.


A impressão que tenho é que desde o início de sua vida ela pressentira sua morte. Talvez por isso tenha vivido tão intensamente. Talvez sempre tenha suspeitado que um dia seria morta por aquele que obstinadamente a alimentou. Talvez tenha sido essa a razão por não tê-lo culpado enquanto ele lentamente trinchava seu corpo.

Mas eu o culpo, sinto asco, vergonha de ser da mesma espécie que ele.

Hoje, quando sento-me na janela e começo a voar, lembro-me daqueles olhos claros.
Penso que o mundo poderia ser menos cruel, menos desigual, quem sabe até mais fraternal. Mas a retórica lateja em minha mente, e o questionamento é inevitável; se existissem somente pessoas boas, a encargo de quem ficaria toda a sujeira e desumanidade?
Aos animais, quem sabe...

Monday, June 11, 2007

Subtração...





Existem pessoas que nasceram para serem exclusivamente escravas. Sendo assim estão fadadas ao esquecimento para o resto de suas medíocres vidas.
Penso que é até contraditório dizer “suas vidas” porque na realidade, para mim, elas não vivem, mas sim subtraem da vida dos outros.

Conseguem se manter com os restos produzidos por caridosas e ingênuas pessoas, que por descuido, deixam escapar fragmento de bens que possam vir a interessar os escravos.

Restos de idéias, restos de alegrias, restos de tristezas, restos de arrogância, restos de inteligência, restos de orgulho, restos de motivações, simplesmente tudo é reaproveitado pelos famintos olhos que posicionam-se em caráter de alerta, sempre atentos ao primeiro vacilo.

Pessoas possuidoras desse tipo de índole sugam, por menor que seja, qualquer resíduo de inspiração que pessoas admiradas por elas, possam oferecer.

Queixam-se por serem subestimados, lamentam por não terem oportunidades, sofrem como a indiferença, invejam a astúcia alheia, usurpam o que não são delas por direito e lamentavelmente, furtam sonhos por desespero

Julgo que o eterno escravo dissimulado é uma criatura incompreendida devido a tamanha dedicação a si mesmo. Esse culto unilateral é visto pela sociedade como sendo uma atitude egocêntrica, uma vez que meros mortais foram educados a sempre dividir o que foi conquistado.

Figuras importantes no cenário mundial que estampam capas de revistas, indo das de fofocas as publicações sobre governos internacionais, também são integrantes da tribo dos chupins. O que diferencia ele dos chupins anônimos? O sobrenome e a astúcia.

Os dissimulados escravos chupins, padecem em uma vida surreal, tanto os anônimos, quanto os grandes notáveis. Suas vidas são construídas em cima de pequenas mentiras, que gradativamente tornam-se grandes falcatruas.

Toda e qualquer manifestação desse grupo social, é baseada e concretizada genuinamente no plágio. É plausível e justificável imitar. O Ato de copiar é o mandamento que rege e alimente a força desse movimento.

É valido o plágio de idéias, trabalhos, inventos, citações, amores, histórias, desventuras, personalidades, sentimentos, reações.

(...)

O que realmente não sei desvendar, logo não posso afirmar, é a maneira como um indivíduo torna-se um escravo chupim. Penso que está intrínseco em seu gene. Porém, a influencia de falsos conselheiros também pode contar como um adicional relevante. Assim como a preguiça pode também ser um fator crucial quando o indivíduo encontra-se sem saída, e julga escolher o melhor caminho, o plágio.

Cada um opta pelo estilo de vida que deseja seguir. Alguns traçam caminhos brilhantes, outros arrastam-se pela vida lamentando-se e assim deixam de viver. Outros passam à vida na sombra dos outros.
Determinadas escolhas, surtem efeitos imediatos, porém o veneno deixado como herança é irreversível.

Até onde vale a pena deformar um caráter para conseguir de forma ilícita um objetivo ostentado pelos outros, uma vez que o chupim, não tem sequer capacidade para arquitetar sua própria vontade.

Tuesday, May 29, 2007

Apenas mais uma desventura em série.

Imbuída de uma certeza absoluta, posso garantir que jamais, em toda minha existência, tive a sorte de ter um bom vizinho. O axioma proferido abre espaço para um único questionamento:
Seria EU realmente a azarada da história?

Quando criança, tive o prazer de conviver com vizinhos italianos. Senhor Giovani, que sinceramente não sei porque eu insistia em chamá-lo de Seu João, e sua simpática e prendada esposa, Dona Lourdes.
A convivência foi fascinante, uma vez que aos poucos, o dialeto italiano tornou-se praticamente habitual na divisa entre nossas chácaras.

A relação de amizade adquirida há pouco mais de 6 meses, tornou-se digamos assim, efêmera.
Seu João, vulgo Senhor Giovani, decidiu implantar uma pequena criação de galinhas supervisionadas pelo senhor dos senhores, o Rei galo.
Não sei se todos estão cientes sobre meu peculiar histórico relacionado as aventuras e desavenças com essa espécie de ave, sendo assim, nobre de minha parte SEMPRE ADVERTIR que os galos voam!

Nossas chácaras eram separadas por uma divisa aramada, logo privacidade era uma palavra inexistente entre a vizinhança. Os novos voadores moradores, hipnotizados pela luz reluzente provinda da cerca, elegeram a divisa entre as chácaras, o cantinho da ciscagem.
Até hoje imagino porque tanto essas galinhas ciscavam naquele mesmo lugar.
Geograficamente falando, as simpáticas galinhas adquiriram fascínio por ciscar logo abaixo da janela do meu quarto. Fui descobrir o local exato da escavação, nas férias de Julho.

Logo nos primeiros dias de férias, assustada e ao mesmo tempo tendo minha curiosidade instigada, passei a investigar sobre os sonhos consecutivos sobre galinhas e galos que rondavam e perseguiam minhas noites.
Consultei de sábios venerados por seus vastos conhecimentos chegando a realizar leituras complementarem em livros sobre significados de sonhos

Minha gana pela resposta foi tamanha, que simplesmente uma noite, praticamente no final das férias, resolvi permanecer acordada. Nunca uma noite, antes tinha sido tão longa. As pálpebras pesavam, meus olhos sentiam como se houvessem toneladas de areias neles. Contrariando expectativas, bravamente, avancei pela noite, adentrei pela madrugada e posteriormente, poderia ter contemplado o alvorecer...

Passadas 5:20 da manhã, deparei-me com uma das maiores surpresas presenciadas por mim em toda minha existência. Pude ouvir ruídos ao longe de um pelotão de galinhas e galo vindo diretamente de encontro à cerca. Em questão de segundos, todos devidamente posicionados, começaram então suas escavações, sendo essas, estrategicamente do lado de fora da janela do meu quarto.

Posso assegurar ao leitor que o alívio da descoberta durou o tempo suficiente para que minha paciência fosse afetada pelo barulho irritante provindo da equipe de escavação, que dedicavam cada segundo de suas vidas em busca de fósseis e descobertas arqueológicas.

Os últimos dias de minhas férias tornaram-se um verdadeiro inferno. Uma vez ciente da presença dos arrojados historiadores, por menor que fosse o ruído, eu tinha meu sono interrompido.
Foi quando, em uma madrugada de sábado, atenta aos movimentos dos pesquisadores, levantei-me de minha cama, rumei até a cozinha, enchi uma jarra de água, e voltei para o local da execução. Em meu pensamento, não iria restar pedra sobre pedra ou pena sobre pena.

Lentamente abri a janela de meu quarto, mirei e atirei. Posso dizer que metade do volume contido na jarra, caiu dentro do meu quarto, em cima do móvel que servia para eu estudar durante a tarde, que diga-se de passagem, pouco foi usado – nunca gostei de estudar.
A outra metade, certeiramente atingiu o almejado e odiado alvo. Pude observar em estado de êxtase a corrida que os estudiosos tiveram que realizar para desviarem dos jatos mortais de água.

Meu contentamento foi lendário assim como a bronca que tive que escutar pelo irresponsável atentado aos historiadores.

Mais a tarde, em conversa extra oficial, minha mãe e o Seu João decidiram que a equipe apenas seria solta no período em que eu estivesse no colégio. Sábio acordo, devo admitir.
Assim como deve admirar, louvar e agradecer a perfeita utilização da arte da diplomacia desempenhada por minha destemida mãe, dias depois do fatídico atentado.

Argumentou e justificou com o Seu João, como uma perfeita advogada da paz, que sua sensata filha, havia por descuido, acertado com a bola de vôlei no cano que levava a água para a caixa d’água. E que acidentalmente, o cano que irrigava toda a água para a casa do Seu Jãao, havia sido rompido, resultando assim, na escassez total do abastecimento da água e, caso servisse de consolo, a parte agressora também havia sido afetada, nosso quintal encontrava-se submerso.

Por vingança do destino ou não, seu João e Dona Lourdes, ficaram parcialmente sem água durante dois dias. Os escavadores? Esses tomaram água da chuva, porque primitivas são as pessoas que subestimam essas adoráveis criaturas.


Tuesday, May 15, 2007

Antro de ilusões

Há algum tempo atrás em um lixão muito distante, moravam 5 amigas urubus. A localização do lar dessas confiáveis criaturas era tão longínquo que nossos olhos não poderiam enxergar tamanha falsidade e podridão.

Sonsa era a deslumbrada líder do grupo. Sem grandes atrativos físicos, apostava todas as suas fichas em seu cabelo, discretamente tingido de vermelho fogo. Conquistou o posto de líder, uma vez que entre as 5, era a mais provida de vestígios de inteligência. Sonsa possuía uma estranha obsessão por carniça de hiena com molho ensangüentado de coágulos.

Disfunção contava com diminutivos a seu favor. Era gordinha, baixinha e horripilantezinha. Tinha os cabelos pintados de negro, talvez para contrastar com sua feiosa tez alva. Gostava muito de conversar, perigosamente, se deixassem, poderia falar por dias seguidos. Sonsa, "inofensivamente" proferiu a palavra Fabulosa para definir Disfunção, que lisonjeada acatou o adjetivo e fez questão de torná-lo seu apelido.

Entojo foi a última a se unir a irmandade. Foi criada em berço de ouro, porém seu pai em um golpe do destino perdeu todo seu dinheiro, mas não perdeu o orgulho e muito menos a pose. Entojo possuía uma postura altiva, tinha seus cabelos tingidos de loiro (puro saudosismo do que foi uma vez em sua infância). O corpo era esguio, porém sua silhueta destacava-se pela largura de seus quadris. Possuía os olhos azuis, mas a beleza não existia, uma vez que seus olhos eram esbugalhados feito pães amanhecidos.

H2O2 a duras penas conquistou o posto de melhor amiga da Sonsa líder, perdão, da líder Sonsa. A amizade das duas aparentava ser inabalável, trocavam confidencias, riam de piadas e da desgraça dos outros urubus que ali também viviam. H2O2 perdeu seu posto com a chegada Entojo e seu reinado de vice-líder entrou em declínio. Em tentativa desesperada para reconquistar seu cargo, H2O2 tingiu seus cabelos de loiro. Tentativa frustrada e inútil, a líder Sonsa era impetuosa em suas decisões.

Lost era a que mais se diferenciava das demais amigas. Criatura flexível no quesito peso, ora magra, ora gorda. Tinha os cabelos ondulados tingidos de loiro. Sempre esboçava um sorriso na face. Possuía um belo par de olhos azuis que acredito terem conquistado seu meigo namorado. Lost era caso de discórdia perante os olhares que analisavam a irmandade, uma vez que se distinguia das outras amigas do grupo. Mas a dúvida foi rapidamente sanada. Bastaram 5 minutos em conversa casual com Lost, para perceber que a futilidade era o ponto crucial que as unia.

As 5 viviam em harmonia no lixão da Rua Batura. Porém a tranqüilidade e amizade incontestavelmente sincera que existia entre elas, foi abalada por ventos provindos da região Nordeste do País.

A visita de um urubu, robusto, cheio de vida e de uma simpatia ímpar, deu início ao fim da irmandade.
A disputa pela atenção do novato, foi feroz, acirrada e cruel. Lost não entrou na rixa, uma vez que possuía namorado, mas seria mentira dizer que ela não olhava para Dissimulado com outros olhos.

H2O2 munida de raiva reprimida atacou com violência Entojo. Foi um espetáculo e tanto para Burguês assistir. Negras penas voando e insistentemente pousando por sobre detritos que calmamente repousavam nas adjacências do lixão. H2O2 perdeu o combate, porque embora fosse bem mais avantajada no quesito massa, não contava com a agilidade dos quadris de Entojo.
Sonsa, sagaz feito uma vespa, logo percebeu que iria tomar uma lendária surra de Disfunção e tão cedo iria se torna, literalmente apenas um verme. Rápida no gatilho, Sonsa começou o disparo de explanações sobre as condutas e peculiaridades de Disfunção. Comentou em alto e bom som que a amiga, possuía mau hálito, assim como apenas abria o bico para fazer falsas afirmações. Proferiu que seu apelido, entre as amigas era Fabulosa, uma vez que era uma exímia contadora de Fábulas, e para um bom entendedor, meia palavra basta.

Sonsa, contagiada por seu veneno, ainda teve tempo de gritar aos quatro cantos que Entojo possuía uma voz indiscutivelmente irritante e que apenas tomou o lugar de H2O2, porque era um pouco mais esperta que sua antecessora.

Ao finalizar sua exibição, Sonsa direcionou suas palavras à Lost, porém quando abriu o bico para proferir palavras doces e consoladoras, como era de seu feitio, foi massacrada por um trator que assenta o lixão diariamente.

Dissimulado observava de longe o circo que havia se formado. E desolado com tamanha falsidade que habitava aquele reino imundo, bateu suas asas e voou para bem longe daquele lugar.

Lost de tão perdida, desalenta e desiludida com o rumo que aquela sincera e pura amizade levou, entrou por debaixo de sacos de lixo, semi abertos, e desse buraco, nunca mais saiu.

H2O2 tornou-se líder de um novo clã de urubus de menor idade, conseqüentemente menor sagacidade. Logo, pode obter o controle do grupo, por tempo determinado. Quatro meses após a inauguração do antro, teve seu posto roubado por Ganância, que havia sido sua pupila.

Entojo formou-se em Publicidade e Propaganda e foi contratada por uma empresa que fabrica desodorantes. Conquistou de certa forma seu lugar, porém seus olhos esbugalhados não enganam sua chefe, que diariamente a supervisiona temendo um golpe da funcionária.

Disfunção voou de volta para sua casa, onde vive até hoje sob as acolhedoras asas de sua mãe, que apesar da filha que tem, a ama acima de qualquer coisa.

Sunday, May 06, 2007

Sinceramente, discordo em gênero e grau.

Dia ensolarado logo ali, atrás de mim. Posso sentir o calor, assim como posso ver os raios do Sol refletidos na tela de meu modesto computador. Tenho que confessar que minha inspiração pouco se deixa afetar por belas paisagens, logo, a janela fica posicionada do lado contrário de meus olhos.
Minha inspiração, se é que posso chamar minhas idéias dessa forma, é provinda na maioria das vezes, única e exclusivamente da música. Ah a música! Existe algo mais deslumbrante e envolvente que a música?
Enfim, deixo para qualquer outro dia comentar sobre meu fascino pela música, uma vez que o foco desse texto, hoje, é outro.

Acho que o espanto ao lerem o próximo parágrafo será descomunal e unânime uma vez que a identificação de vocês, queridos “telespectadores” (uma vez que tenho escrito verdadeiras novelas), será imediata diante desse texto, a priore, desconexo.

Sabe quando o mundo parece que deixou de girar por alguns instantes, com a exclusiva finalidade de arquitetar um plano mirabolante para ferrar contigo? O plano “dele” é básico, simplesmente segue essas diretrizes: “Ele” concentra toda sua massa em um lugar, mira milimetricamente e descarrega. Logo ali, em cima de você. Simples assim. O mundo de uma hora para a outra “resolve” punir um sujeito direito, sem vícios e acima de tudo esperançoso, até então.

Suplico por respostas negativas para a indagação que segue: Será que é SOMENTE COMIGO que esse tipo de coisa acontece?
Conto com comentários negativos do gênero “Não Carol, não se sinta tão o centro das atenções assim!”
Esse tipo de resposta já me daria por satisfeita, caso as recebesse.

Veja você, astuto leitor, domingo 23/04/07, como não poderia faltar nessa Terra de ninguém que é Itapema, o Sol reluzia diante de meus olhos assim como nos olhos dos turistas fora de temporada, classificados como turistas da terceira idade, que diga-se de passagem consomem praticamente o mesmo que os turistas convencionais que trazem famílias e cachorros.
Vale apenas ressaltar um relevante detalhe que distingue turistas e turistas, os classificados como terceira idade, são imensamente mais bem educados que os demais turistas.
Ainda penso que nasci na época errada....

Voltando ao “causo” verídico que motivou esse texto. Domingo, meu único dia de folga, minha mãe e eu entrando em um consenso, resolvemos fazer compras em outra cidade, Balneário Camboriú. Saímos logo cedo, alugamos um carro, que ao longo da viagem praticamente deixo-me a um passo da insanidade, tudo por causa de um barulho extremamente irritante que vinha direto das pastilhas do freio e que segundo o senhor que nos alugou o carro, tirando isso, o carro estaria perfeito.

Chegamos em Balneário, demos uma volta, passamos por algumas lojas, mas sem grandes empolgações, pois como devem saber e sentir, a situação não anda boa para a classe média. Ao chegarmos no Big (supermercado) minha mãe simplesmente direcionou seu carrinho para um determinado setor e como em uma canção de ninar, disse para que eu a seguisse.
Praticamente flutuei ao deparar-me com o meu maior objeto de desejo atual, aquele que eu sonhei durante tanto tempo, e que de certa forma, a não aquisição do mesmo atrasa minha vida.

--Moça? Esse é o maior que vocês tem?
--Sim, esse é o maior.

O anúncio caiu como uma bomba. Despedaçando cada um de meus últimos milímetros de esperança que ainda habitavam meu ser.
Um ar de derrota ensaiou instalar-se entre nós duas. Porém não nos deixamos abater.
E pensar que eu estava com ele em minhas mãos... Eu disse que NÃO NOS DEIXOU ABATER.

Por falar em bomba, nossa compra foi mesmo como a contagem regressiva de uma bomba relógio, uma vez que deveríamos devolve o carro até as 18:00h.

Conta paga com cheque pré para 40 dias (facilidades que somente um grande supermercado pode oferecer), antes a faculdade também aceitasse um cheque pré para o ano que vem, quem sabe.

Voltamos para casa, minha irritação aumentava conforme nos aproximávamos de nosso prédio, que em bom português é uma merda, comparado aos padrões que estávamos acostumadas a viver. Prédio sempre com elevador, garagem privativa e carrinho para levar as compras que descarregávamos de nosso carrinho zero km.

A irritação já havia sido impregnada em meu ser uma vez que ao passar pelos corredores do supermercado, meus olhos avistavam produtos supérfluos, bolachas, salgadinhos, que despertavam em mim uma vontade absurda para a compra. Mas por causa da economia que estamos fazendo (eu e minha mãe), por que pai eu NÃO tenho, não podemos gastar em bobeiras, por que temos que nos livrar dessa maldita geladeira e comprar uma Frost Free que custa no mínimo R$1.500,00.
Outro fator de extrema relevância para meu estado de irritabilidade é ter que alugar um carro, uma vez que sempre tivemos um...

Enfim, “revoltas sócio-materiais” à parte, ninguém tem absolutamente nada com isso, chegamos de volta à Itapema, começamos a descarregar, foi quando percebi algo errado... Muito errado.

Havia açúcar, sem ser refinado, por praticamente todo o lado direito do porta-malas. Pensei no trabalho que daria para limpar tudo aquilo.
Foi limpo pela idéia genial de minha mãe, tirar o carpete e bater do lado de fora do carro, simples assim, sem choro nem vela.

Quase morrendo, subimos carregando as compras. Enfim de sabão em pó à ervilhas, tudo chegou até o 3º andar de meu prédio. Pensei até em chamar reforço, um menino aí que às vezes carrega nossas compras e pede em troca apenas um abraço. Mas achei melhor incluí-lo fora dessa e deixá-lo apenas em seu trabalho oficial.

Minha mãe em seguida foi devolver o silencioso carro alugado. E eu comecei a desempacotar as compras.
Apenas um pequeno parênteses sobre a doença que adquiri, dizem que quem possui Febre Reumática, se cansa com facilidade. Estou começando a acreditar que realmente tenho a tal FR, antes essas escadas eram exercícios, hoje parecem degraus infinitos.
Esse cansaço físico também me irritou, isso sem levar em consideração meu cansaço mental e psicológico.

Tiro molhos de tomate de uma sacola, cotonette de outra e açúcar, isso mesmo, AÇUCAR.... por toda a cozinha. Lembram-se do açúcar do carro? Agora os restos mortais que permaneceram no pacote, estavam esparramados por toda a cozinha, uma vez que minha distraída mãe, não o colocou em um local isolado, bem longe do resto das compras.
Minha reação foi a mais inesperada que poderia um dia imaginar. Em meu estado normal, possivelmente eu iria esbravejar, porém iria acabar rindo segundos depois do ocorrido.

Mas dessa vez foi diferente, penso que até o morador do final da minha rua pode ouvir meus gritos de raiva, de fúria e indignação. Ainda sob o efeito da ira, peguei o resto da pizza que havia sobrado da noite anterior e rumei mirando o lixo. Xingando em alto e bom som, dobrei a caixa da pizza em 4 pedaços, porém enquanto eu pegava o saco de lixo preto, a caixa se abriu, conseqüentemente, os restos de pizza, ovo, queijo, molho, tomate e cebola desfilaram pelo chão da lavanderia, anexo a cozinha.

Seguindo a tendência de minha paciência, joguei a caixa de pizza longe, derrubei o estrado que serve como portinhola para manter o Brownish em sua casinha na hora de dormir, e simplesmente sapateei por cima dela. Minha raiva era tamanha que mesmo eu estando em cima de uma madeira, descalça, não pude sentir dor alguma. Gritei, briguei, xinguei.

Meu ataque de fúria foi tamanho, que sequer senti remorso pelas ofensas que fiz ao mundo, as coisas, a mim, a todos.
Aí percebi que é nessa hora que entra em vigor o dito “quem não tem remédio, remediado está”, logo, ajudei minha mãe a limpar tudo aquilo que eu havia estragado. Foram quase duas horas para limpar e deixar mais ou menos como estavam as coisas antes do Tsunami chamado Carol.

Realmente admiro a sensatez com que minha mãe conduziu essa situação de calamidade pública.

Para encerrar o dia com chave de ouro, nada melhor do que fechar o dedão da mão direita na gaveta, adivinhem de onde? Da cozinha.

Meu pé dói, minha unha também, minha irritação continua a flor da pele e acaba por afetar todos ao meu redor. Encontro-me com as mãos atadas uma vez que não consigo enxergar uma maneira de deter ou simplesmente canalizar para outro lado minha fúria.

Especialmente para você, leitor, que preparou mentalmente um comentário do gênero: “Daqui um tempo você ainda vai rir de tudo isso”, por favor, se for comentar, procure escrever algo menos clichê e mais original do que isso. Se para você essa frase significa consolo, para mim significa falta de criatividade.
Estamos combinados?
Originalidade, infelizmente, está em falta.
Para concluir, essa crônica exaustiva, diria que voltei mais salva do que sã, ao contrário das pessoas ao meu redor, que parecem, sinceramente mais seguras, longe de mim.

Saturday, April 21, 2007

Aquela velha forma que fabrica estereótipos...

Às vezes me pergunto se realmente, quando uma vez criança, fui apresentada à civilização. No sentido exato da frase, passo minutos, quiçá horas pensando sobre esse assunto, que por tanto tempo, atormentou e de certa forma, ainda atormenta meu psicológico.
Hoje, curiosamente, na aula de -editoração eletrônica- aprendi o significado da palavra pregnância. Obviamente o Word desconheceu o significado, e mais do que depressa, sublinhou a palavrazinha nunca antes escrita e utilizada por “ele”. Pelo que pude entender, o significado gira em torno de ter um foco e segui-lo até o fim. Aplicando na minha área, uma propaganda de baixa pregnância é aquela que não consegue sequer sustentar um conceito, mas mesmo assim tenta inserir outros conceitos na mesma propaganda. O leitor, ao concluir sua perspicaz leitura “semi-ótica” não consegue chegar a uma conclusão e encontra-se em estado de confusão diante da peça publicitária.
Desde bem pequena, diria desde uns 6 anos, sempre preferi o isolamento à aglomeração. Lembro-me da vez que ao sair do “prézinho” deparei-me com uma multidão sem igual, desesperada e desnorteada busquei com meus olhos rígidos de pavor, um rosto conhecido. Avistei a imagem de meu avô, observando-me orgulhoso. Correndo e com uma comoção sobrenatural, joguei-me em seus braços e questionei o porquê da demora para irmos para sua casa, onde enfim, iria me sentir em total segurança. Somente na hora do almoço, em nossa fortaleza, descobri que o motivo para o aglomero e euforia era a pré-comemoração para o "dia" das crianças que se aproximava.
Posso afirmar que nunca fui uma criança assustada, pelo contrário, a sina de minha mãe sempre foi andar pela casa, aterrorizada de medo, fazendo o máximo de barulho possível, indagando por meu nome, uma vez que sabia que eu estaria escondida por entre móveis e espaços estratégicos, preparada para “dar o bote” e assustá-la, assim como fazia nossa saudosa gatinha Sputnik.

Aprendi, como poucos, a fantástica e envolvente “análise de conjuntura” brilhantemente lecionada por um dos últimos integrantes do grupo dos realmente apaixonado por sua profissão, professor Magru. Sua didáctica deliberadamente liberal não foi bem vista aos olhos de meus, como poderia dizer, adolescentes colegas de classe. Em suas aulas, também aprendi que respeito se conquista e não se impõe. E acima de tudo, passei a admirar meu querido, íntegro e sábio professor que por diversas vezes insisti veemente em defender dizendo ser um homem de vanguarda. Lamento cada episódio que sua sanidade foi de maneira infundada questionada, lamento a atrocidade que é ter que dividir o mesmo espaço físico da faculdade com crianças insensatas e cruéis.

Diria que na medida do possível, não encontrei grandes dificuldades para enfrentar minha primeira infância. Porém, posso sim afirmar que meus problemas foram aflorando conforme meu desenvolvimento rumava com passos largos à adolescência.
Durante essa época, nunca consegui ao certo compreender como uma pessoa podia manter ao mesmo tempo dois melhores amigos. Como conseguia dedicar-se inteiramente a um melhor amigo se na verdade possuía dois? Como poderia não fazer distinção entre os dois? Essas foram uma das “relevantes questões” que mais perturbavam minha juvenil cabecinha de vento.

Sendo eu filha única, sempre consegui manter o holofote das atenções direta e intensamente voltado para o brilhante caminho que traçava dia pós dia.
Uma vez assim, passei então a sufocar todos ao meu redor com a exigência de dedicação integral, incluindo assim a categoria de melhor amiga da vez.
Sim caro leitor, foram várias melhores amigas durante um pequeno espaço de tempo. E o problema não estava no quesito dar continuidade na amizade, mas sim na pressão que, muitas vezes sem querer, eu acabava impondo por questionar incansavelmente sobre a tal amizade bilateral.

Dizem que as atitudes das crianças fora de casa, apenas refletem as atitudes que as mesmas desempenham dentro de casa...

Lembro-me da vez que, sendo essa a última, *Ana olhou-me de relance, eu a encarei fixamente tentando de certa forma entrar em seu subconsciente, porém nenhum resultado positivo pude obter. Por anos a fio tentei energicamente agregar justificativas plausíveis para aquela pesarosa mentira que *Ana havia arquitetado a meu respeito. Às vezes prefiro pensar que aquele último olhar foi uma espécie de súplica, um grito de socorro, direcionado estritamente à mim, a menina que de tão egoísta, negava-se a dividir até a própria melhor amiga.

Foi durante minha adolescência, 14, 15 anos, que recebi “O” grande presente. Aquele que levamos para o resto da vida. Uma amizade verdadeira. E não é que essa amizade veio com um brinde? Contabilizei assim duas amizades verdadeiras! Meu trauma de maneira tímida foi então superado, uma vez que dei-me conta que dedicação, cumplicidade e amor, nada tem a ver com exclusividade.

Curioso perceber como a maturidade é adquirida somente com o cair das folhas de cada outono... Apenas com 23 anos pude compreender que a amizade verdadeira sempre esteve ao meu lado e, de maneira intangível, sempre irá estar.

“Mãe, posso chamar a *Ana para brincar hoje?” “Pode me dizer algo que eu não faria por ti, filha?”
“Dona Carolina da perna fina, venha aqui me ajudar a lavar o carro”
“Carol, vamos ao supermercado? Seu avô deu R$50,00, podemos passar na padaria para comprar tortinhas holandesas”.
“Que foi filha branca? Será que vou ter que parar outro ônibus e pegar um pela orelha?”
“Eu levo o rocambole de goiabada, mas pede para sua mãe fazer aquela panqueca doce?”
“Carol, desce aqui que hoje é noite das teorias, regado a brigadeiro”.


Antigamente as pessoas se afastavam de mim...
... hoje sou eu que me afasto delas, ou simplesmente dou “bons” motivos,
inteiramente intencionais, para que elas possam assim sucumbir minha vontade de permanecer sozinha.

Sunday, March 18, 2007

Incompatibilidades de genes.





-- Carol, arrume-se! Vamos sair para comprar uma roupinha bem linda para você.

Lembro que estava sentada em frente a minha sapateira anexa a meu guarda-roupa embutido em uma parede cor de gelo. Com questionamentos relacionados à arquitetura, olhava invariavelmente para dentro da sapateira, que havia sido desocupada (pacificamente e com total apoio de Dona Cecília) para dar lugar à nova casa de minhas Barbies. A sapateira possuía duas prateleiras, logo a luxuosa mansão de minhas bonecas continha dois andares, para a maior comodidade e mobilidade de minhas fieis amigas.

Sem titubear e exercendo uma rapidez incrível no quesito “vestir-se imediatamente” troquei minha roupinha de ficar em casa (lê-se: aquelas que serviriam como pano de chão, mas por apego ou por não ter outra para substituí-las, deu-se início a uma nova classe de roupa, as “de ficar em casa”).

As “roupas de ficar em casa” eram mantidas sob o olhar organizacional da matriarca regente Dona Cecília e sob os cuidados de sua leal “escudeira”, Rosa.
Algumas regras foram estabelecidas para o perfeito funcionamento da classe têxtil denominada “roupa de ficar em casa”:

Parágrafo Primeiro: Roupas de “ficar em casa”, jamais devem abandonar seus lares. Ou seja, NUNCA sair de casa trajando roupas de “ficar em casa”.
Parágrafo Segundo: Toda e qualquer “roupa de ficar em casa”, deve e será substituída quando enfim chegar o dia de sua aposentadoria (lê-se lixo).
Parágrafo Terceiro: A seleção para uma roupa se tornar “roupa de ficar em casa” será rigorosa, uma vez que “roupas boas” que sequer modelam o corpo sem apertar, terão de ser repassadas para primas mais novas (lê-se Larissa ou Rosa e Cia).
Parágrafo Quarto: Em hipótese alguma, será admissível lamentação ou qualquer manifestação de prato perante o declínio de categoria de uma peça de roupa.
Parágrafo Quinto: Ao atingir a categoria “roupa de ficar em casa” qualquer amostra de desprezo ou descaso para com a roupa em questão será severamente reprimida, repreendida e corrigida.
Parágrafo Sexto: “Roupa de ficar em casa” e “roupa de sair”, nunca devem ser comparadas, uma vez que ambas possuem valores igualmente significativos.
Parágrafo Último: O não cumprimento das regras estabelecidas acarretará em instantâneas argumentações e suspensão de regalias ao final do mês.

Entrei no carro, vestida adequadamente com uma de minhas “roupas de sair”, cabelo (rebelde) preso, sorriso inegavelmente estampado em meu semblante.
Curioso como o verbo comprar traz consigo um turbilhão de sentimentos, tantos que podem levar uma criança de 10 anos ao ápice de seus anseios e em muita das vezes levam a súbitos lapsos de memória.

Chegamos à loja, a mais cara da cidade, que vendia apenas roupas de marca (Lilíca Ripilica, Pakalolo) enfim, a loja sensação do momento, cuja filha da dona estudava na mesma classe que a minha, e que durante inesgotáveis dias de diversão e felicidade desempenhou o papel de minha melhor amiga. Nossa amizade durou menos de 2 anos, mas deixou legados memoráveis como no dia em que recitamos juntas, aos 7 anos de idade, versos sobre a independência do Brasil, sendo esse nosso debut perante a sociedade elitizada da pequena cidade em que vivíamos.

Exausta por ter experimentado praticamente todo o estoque da loja e perdido a tarde inteira trocando de blusas e calças, tentando fazer com que uma calça laranja lima combinasse com uma blusa verde limão, acabamos por levar algumas peças de roupas.
Entre elas, algumas chamativas, outras nem tanto, umas discretas, outras que realmente nasceram para brilhar.

Porém, uma das peças adquiridas naquela tarde exercia um poder sobre o abstrato olhar de minha mãe que singularmente se manifestava naquela tarde. Era uma blusa vermelha cuja estampa esboçava uma menina inquestionavelmente feliz.

-- Mãe, posso usar essa blusa hoje de noite para ir à casa da Vera?
-- Não filha, você só vai usar essa blusa em uma ocasião especial.

(...)

E assim a ansiedade tomou conta de cada interminável segundo que vivi durante os dias que precederam o fatídico dia. A blusa era realmente linda, mas o que me corroeu aos poucos, não foi o mistério que envolvia aquela bela blusa, mas sim perceber a capacidade de hipnotismo que aquele ingênuo pedaço de pano exercia sobre minha mãe. Por que de tanta apreensão perante ela? Qual seria o real significado daquela blusa?

Padecendo naqueles dias de angústia, desejei mais do que nunca ter uma máquina do tempo, que me levasse direto ao dia em que finalmente poderia usá-la. Confesso que cobicei usar a tal blusa em uma viagem, quem sabe para a Disney.

Minha espera durou o tempo suficiente para que eu pudesse imortalizar não somente a blusa vermelha, mas também a bermuda e a boina jeans, que usei naquela manhã ensolarada que em questão de minutos, tornou-se tão amargamente surpreendente e inesquecível.

Thursday, February 22, 2007

Então... Restou abraço na solidão.

“Hipocrisia: impostura, fingimento; manifestação de virtudes ou sentimentos que realmente não se tem”.
“Um exemplo clássico de ato hipócrita é denunciar alguém por realizar alguma ação enquanto realiza a mesma ação”.
“A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos
que a pessoa na verdade não possui”.


Penso que os melhores textos que escrevi foram escritos em momentos de extremas desilusões, extraordinária raiva, nocivas mágoas, derradeira alegria, em suma, textos escritos em decorrência de circunstâncias extremas onde meus sentimentos conseguiram inibir o entusiasmo e o poder de minha razão.

Não estou inspirada, sequer com raiva ou apta a descrever sequer o sentimento que pressinto sentir, digo pressentir, porque percebi ao longo de jornadas intermináveis de tortura, que o impacto que determinadas palavras provindas de específicas pessoas, causam um efeito retardado em mim, onde apenas após digeri-las meticulosamente, avaliar o grau de ofensas ou elogios e agregar peso a elas, poderei assim ser afetada ou não por elas.

(...)

Houve um acidente, um tempo atrás, onde meu grande amigo, aquele que desempenhava tão bem o papel de orador da classe, aquele que ditava suas próprias verdades, que impressionantemente distorcia toda e qualquer palavra, desviou-se de suas doutrinas e fatidicamente morreu atropelados pelas mentiras que semeou.
Eu simplesmente amava-o com todas minhas forças, confiava meus mais profundos pensamentos a ele, assim como embriagava-me ao ouvir seus pequenos desvios de conduta seguidos de suas falsas verdades.

(...)

Será que somente eu percebo que o buraco que continuamente cava é seu próprio sepulcro e que inconscientemente mesmo não visando ao fim, sua queda é inevitável?

E quando cair .... talvez não haja mais pessoas dispostas a ajudar-te, uma vez que as mesmas viveram intermináveis momentos de suplícios ao seu lado. Martirizados pela sua inveja foram humilhados e menosprezados mediante a “supremacia de sua grandeza”.

Com o decorrer do tempo o que exatamente ganhou com tudo isso ? Talvez tenha adquirido o que tanto sonhava.... seu ticket apenas de ida para o “céu”.
Hora de exaltar e idolatrar fatalmente sozinho a sua grande vitória, o mérito é somente seu, sua liberdade foi conquistada e sua “luz” encerrada.

Penso que hipocrisia seria dizer-lhe palavras doces quando no âmago de minha alma, queria realmente dar-te um sonoro tapa para tentar acorda-te para a vida, que é real, e que lamentavelmente, só se vive uma vez.

Sunday, February 04, 2007

A falta que aquelas vitaminas me fazem...



--Carol, o Tio Sérgio “tá” vindo para casa daqui a pouco!
--Oi?
--O Tio Sérgio!
--Ahh sim! Ex da Tia Amélia, certo né!?
--Isso, e vem com o Serginho.
(...)
Momento de reflexão e dedicação intelectual para poder moldar uma possível fisionomia para o que poderia ser (o mais próximo) do rosto desse “tal de Serginho”.
Todo meu esforço “involuntário” definhou-se em duas capciosas e controversas conclusões:
Primeira e lamentável conclusão: Os benefícios que venho adquirindo com o passar dos anos com a total abstenção de carne e peixe em meu cardápio, não superam a perda de memória gradativa que venho desenvolvendo.
Segunda e curiosa conclusão: Não fazia a menor idéia de como poderia ser esse “tal de Serginho”. Na real, não sabia ao menos se tínhamos, algum dia, sido apresentados.
(...)
--Tá certo então mãe, mais tarde estarei aí então.
Chegando em casa, deparei-me com Tio Sergio, aquele mesmo Tio Sergio com aquele seu pequeno-grande sorriso cativante que de tanto contentamento seus olhinhos brilhantes delicadamente se fecham.
Com jeito de menino, Tio Sergio, aquele que minha mãe dizia ser mestiço com índio, vem de encontro a mim e com um abraço forte, flashes de uma época praticamente esquecida, voltaram imediatamente a minha mente, e nesse deleite de lembranças, percebo que definitivamente, “o tal do Serginho”, não fazia parte de meu passado.
Sentado no sofá e com os restos mortais de um cubo colorido remendado, que só para tranqüilizar ainda mais minha consciência, o cubo é emprestado, observo um menino obstinado para solucionar em tempo hábil aquele tão desafiador cubo.
Com os longos cabelos levemente recaídos sobre os olhos, o menino que fala com sotaque engraçado, levanta seus olhos hereditariamente iguais a de meu tio, e com um sorriso, dessa vez menos hereditário, abraça-me como se há tempos não nos víamos.
Com apenas dois minutos de conversa, um inusitado comentário direcionada à minha pessoa provem do meu então mais novo primo:
--Você parece que tem 10 anos.
(...)
Com cara de poucos amigos virei para o lado oposto ao qual se localizava essa doçura de menino, contanto até dez e colocando deliberadamente em prática toda a boa educação que minha mãe dedicadamente ensinou-me, virei novamente em sua direção e com um dos sorrisos mais mal arquitetados que já fiz uso, respondi:
--Pelo menos não vou gastar com cirurgias plásticas no futuro.
Insistente, Serginho prossegue com suas conjecturas:
--Tu não “pode” ter mais do que 15 anos. Tu “tem” voz e jeito de uma boyzinha de 10 anos.
Lamentavelmente equiparando-me a um elefante, decorrente a atual situação, e ao mesmo tempo repleta de satisfação pelo fato de conseguir com bravura exercer a pouca, porém, audaciosa paciência que ainda resiste e habita em mim, consegui distrair o astuto menino com conversas paralelas.
No jantar tive a visão de uma família, sabe aquela visão de uma família feliz? A típica happy family que só existe nos filmes? Por todo o decorrer daquele jantar senti-me protegida. Como que se esse presente sempre tivesse sido meu passado.
Após o jantar, demos início à uma animada maratona em busca de uma trufa de chocolate para satisfazer a vontade de meu primo, que a cada movimento, a cada frase, a cada atitude, se mostrava cada vez mais ser meu primo de sangue (Serginho não é meu primo biológico), mas garanto que toda essa nossa similaridade de gostos e jeitos só pode ser hereditária, está definitivamente em nosso sangue.
Penso que embriagado pelo feitiço do chocolate, meu primo desandou a dizer que não acreditava que eu tinha 23 anos.
Persistindo em sua teoria e deixando nós que estávamos no carro praticamente loucos, repetidas e continuadas vezes indagou e questionou sobre o mesmo assunto, minha idade.
Abismada e confesso que, com meu ego machucado por aparentar ter 10 anos, explanei a pérola da noite:
-- Serginho, eu sei que vai doer, que no mínimo tu vai ficar magoado, mas primo, além de sermos PRIMOS, eu sou mais velha que você!
-- Eu sei que vai levar um tempo, mas tu vai ter que deixar essa súbita paixão platônica de lado e seguir sua vida!
A platéia foi ao delírio !!
Risos espontâneos vindos do altos escalão do carro (parte da frente do carro, minha mãe e tio Sergio), invadiram nossa sensata, ponderada e delicada conversa.
-- É filho, tu vai ter que esquecer a prima! Ou ela vai ter que esperar por ti por pelo menos mais uns 10 anos.
-- É Serginho, vê se não vai pegar essas fotos que vocês tiraram juntos e colocar no seu orkut dizendo que a Carol foi uma menina que você ficou no Sul. Disse minha mãe animada.
Rindo como há tempos não ria, percebi que Serginho pode não ter feito parte de meu passado, porém de tão memorável que foi nosso primeiro encontro, com certeza, Serginho, já faz parte de minha história, nem que tenha sido em apenas uma página de minha vida.