Dia ensolarado logo ali, atrás de mim. Posso sentir o calor, assim como posso ver os raios do Sol refletidos na tela de meu modesto computador. Tenho que confessar que minha inspiração pouco se deixa afetar por belas paisagens, logo, a janela fica posicionada do lado contrário de meus olhos.
Minha inspiração, se é que posso chamar minhas idéias dessa forma, é provinda na maioria das vezes, única e exclusivamente da música. Ah a música! Existe algo mais deslumbrante e envolvente que a música?
Enfim, deixo para qualquer outro dia comentar sobre meu fascino pela música, uma vez que o foco desse texto, hoje, é outro.
Acho que o espanto ao lerem o próximo parágrafo será descomunal e unânime uma vez que a identificação de vocês, queridos “telespectadores” (uma vez que tenho escrito verdadeiras novelas), será imediata diante desse texto, a priore, desconexo.
Sabe quando o mundo parece que deixou de girar por alguns instantes, com a exclusiva finalidade de arquitetar um plano mirabolante para ferrar contigo? O plano “dele” é básico, simplesmente segue essas diretrizes: “Ele” concentra toda sua massa em um lugar, mira milimetricamente e descarrega. Logo ali, em cima de você. Simples assim. O mundo de uma hora para a outra “resolve” punir um sujeito direito, sem vícios e acima de tudo esperançoso, até então.
Suplico por respostas negativas para a indagação que segue: Será que é SOMENTE COMIGO que esse tipo de coisa acontece?
Conto com comentários negativos do gênero “Não Carol, não se sinta tão o centro das atenções assim!”
Esse tipo de resposta já me daria por satisfeita, caso as recebesse.
Veja você, astuto leitor, domingo 23/04/07, como não poderia faltar nessa Terra de ninguém que é Itapema, o Sol reluzia diante de meus olhos assim como nos olhos dos turistas fora de temporada, classificados como turistas da terceira idade, que diga-se de passagem consomem praticamente o mesmo que os turistas convencionais que trazem famílias e cachorros.
Vale apenas ressaltar um relevante detalhe que distingue turistas e turistas, os classificados como terceira idade, são imensamente mais bem educados que os demais turistas.
Ainda penso que nasci na época errada....
Voltando ao “causo” verídico que motivou esse texto. Domingo, meu único dia de folga, minha mãe e eu entrando em um consenso, resolvemos fazer compras em outra cidade, Balneário Camboriú. Saímos logo cedo, alugamos um carro, que ao longo da viagem praticamente deixo-me a um passo da insanidade, tudo por causa de um barulho extremamente irritante que vinha direto das pastilhas do freio e que segundo o senhor que nos alugou o carro, tirando isso, o carro estaria perfeito.
Chegamos em Balneário, demos uma volta, passamos por algumas lojas, mas sem grandes empolgações, pois como devem saber e sentir, a situação não anda boa para a classe média. Ao chegarmos no Big (supermercado) minha mãe simplesmente direcionou seu carrinho para um determinado setor e como em uma canção de ninar, disse para que eu a seguisse.
Praticamente flutuei ao deparar-me com o meu maior objeto de desejo atual, aquele que eu sonhei durante tanto tempo, e que de certa forma, a não aquisição do mesmo atrasa minha vida.
--Moça? Esse é o maior que vocês tem?
--Sim, esse é o maior.
O anúncio caiu como uma bomba. Despedaçando cada um de meus últimos milímetros de esperança que ainda habitavam meu ser.
Um ar de derrota ensaiou instalar-se entre nós duas. Porém não nos deixamos abater.
E pensar que eu estava com ele em minhas mãos... Eu disse que NÃO NOS DEIXOU ABATER.
Por falar em bomba, nossa compra foi mesmo como a contagem regressiva de uma bomba relógio, uma vez que deveríamos devolve o carro até as 18:00h.
Conta paga com cheque pré para 40 dias (facilidades que somente um grande supermercado pode oferecer), antes a faculdade também aceitasse um cheque pré para o ano que vem, quem sabe.
Voltamos para casa, minha irritação aumentava conforme nos aproximávamos de nosso prédio, que em bom português é uma merda, comparado aos padrões que estávamos acostumadas a viver. Prédio sempre com elevador, garagem privativa e carrinho para levar as compras que descarregávamos de nosso carrinho zero km.
A irritação já havia sido impregnada em meu ser uma vez que ao passar pelos corredores do supermercado, meus olhos avistavam produtos supérfluos, bolachas, salgadinhos, que despertavam em mim uma vontade absurda para a compra. Mas por causa da economia que estamos fazendo (eu e minha mãe), por que pai eu NÃO tenho, não podemos gastar em bobeiras, por que temos que nos livrar dessa maldita geladeira e comprar uma Frost Free que custa no mínimo R$1.500,00.
Outro fator de extrema relevância para meu estado de irritabilidade é ter que alugar um carro, uma vez que sempre tivemos um...
Enfim, “revoltas sócio-materiais” à parte, ninguém tem absolutamente nada com isso, chegamos de volta à Itapema, começamos a descarregar, foi quando percebi algo errado... Muito errado.
Havia açúcar, sem ser refinado, por praticamente todo o lado direito do porta-malas. Pensei no trabalho que daria para limpar tudo aquilo.
Foi limpo pela idéia genial de minha mãe, tirar o carpete e bater do lado de fora do carro, simples assim, sem choro nem vela.
Quase morrendo, subimos carregando as compras. Enfim de sabão em pó à ervilhas, tudo chegou até o 3º andar de meu prédio. Pensei até em chamar reforço, um menino aí que às vezes carrega nossas compras e pede em troca apenas um abraço. Mas achei melhor incluí-lo fora dessa e deixá-lo apenas em seu trabalho oficial.
Minha mãe em seguida foi devolver o silencioso carro alugado. E eu comecei a desempacotar as compras.
Apenas um pequeno parênteses sobre a doença que adquiri, dizem que quem possui Febre Reumática, se cansa com facilidade. Estou começando a acreditar que realmente tenho a tal FR, antes essas escadas eram exercícios, hoje parecem degraus infinitos.
Esse cansaço físico também me irritou, isso sem levar em consideração meu cansaço mental e psicológico.
Tiro molhos de tomate de uma sacola, cotonette de outra e açúcar, isso mesmo, AÇUCAR.... por toda a cozinha. Lembram-se do açúcar do carro? Agora os restos mortais que permaneceram no pacote, estavam esparramados por toda a cozinha, uma vez que minha distraída mãe, não o colocou em um local isolado, bem longe do resto das compras.
Minha reação foi a mais inesperada que poderia um dia imaginar. Em meu estado normal, possivelmente eu iria esbravejar, porém iria acabar rindo segundos depois do ocorrido.
Mas dessa vez foi diferente, penso que até o morador do final da minha rua pode ouvir meus gritos de raiva, de fúria e indignação. Ainda sob o efeito da ira, peguei o resto da pizza que havia sobrado da noite anterior e rumei mirando o lixo. Xingando em alto e bom som, dobrei a caixa da pizza em 4 pedaços, porém enquanto eu pegava o saco de lixo preto, a caixa se abriu, conseqüentemente, os restos de pizza, ovo, queijo, molho, tomate e cebola desfilaram pelo chão da lavanderia, anexo a cozinha.
Seguindo a tendência de minha paciência, joguei a caixa de pizza longe, derrubei o estrado que serve como portinhola para manter o Brownish em sua casinha na hora de dormir, e simplesmente sapateei por cima dela. Minha raiva era tamanha que mesmo eu estando em cima de uma madeira, descalça, não pude sentir dor alguma. Gritei, briguei, xinguei.
Meu ataque de fúria foi tamanho, que sequer senti remorso pelas ofensas que fiz ao mundo, as coisas, a mim, a todos.
Aí percebi que é nessa hora que entra em vigor o dito “quem não tem remédio, remediado está”, logo, ajudei minha mãe a limpar tudo aquilo que eu havia estragado. Foram quase duas horas para limpar e deixar mais ou menos como estavam as coisas antes do Tsunami chamado Carol.
Realmente admiro a sensatez com que minha mãe conduziu essa situação de calamidade pública.
Para encerrar o dia com chave de ouro, nada melhor do que fechar o dedão da mão direita na gaveta, adivinhem de onde? Da cozinha.
Meu pé dói, minha unha também, minha irritação continua a flor da pele e acaba por afetar todos ao meu redor. Encontro-me com as mãos atadas uma vez que não consigo enxergar uma maneira de deter ou simplesmente canalizar para outro lado minha fúria.
Especialmente para você, leitor, que preparou mentalmente um comentário do gênero: “Daqui um tempo você ainda vai rir de tudo isso”, por favor, se for comentar, procure escrever algo menos clichê e mais original do que isso. Se para você essa frase significa consolo, para mim significa falta de criatividade.
Estamos combinados?
Originalidade, infelizmente, está em falta.
Para concluir, essa crônica exaustiva, diria que voltei mais salva do que sã, ao contrário das pessoas ao meu redor, que parecem, sinceramente mais seguras, longe de mim.